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PSICOLOGIA E TRABALHO

A identidade caminha junto com o papel profissional. Motivação, reconhecimento, valorização inflam o ego e afetam sobremaneira o estado emocional das pessoas. Infelizmente, atitudes negativas nas empresas como subestimar, desrespeitar, abusar e ignorar míngua a capacidade produtiva e lotam os tribunais de justiça sob o rótulo de assédio no trabalho.

 

O psicólogo Pedro Fernando Bendassolli, na sua tese de doutorado, tece um estudo aprofundado sobre as transformações na relação entre trabalho e a formação da Identidade. Alicerçado por estudiosos da área, o pesquisador se propõe a demonstrar que, por um excesso de valorização do trabalho como fonte de reconhecimento e autoestima, este acaba por gerar ambiguidades e expectativas muito acima daquilo que pode oferecer, levando as pessoas a uma ilusão sofrida.

 

Segundo Bendassolli, existem atualmente fatores cruciais que estão formando uma nova mentalidade, “menos utópica” e “mais realista”, diante de um cenário corporativo contraditório e ambíguo.( p. 245). Neste cenário, esses fatores são: a desvalorização do dever a ser cumprido, como finalidade principal cultuada pelas gerações passadas; e a conscientização de que o trabalho já não atende todas as expectativas pessoais.

 

Na referida pesquisa, o autor cita o filósofo Zigmund Bauman que complementa o acima exposto. Segundo Bauman, a modernidade criou um novo homem. Para este filósofo, o homem do passado valorizava a ética do trabalho e o ganho não era medido pela sua imediaticidade, mas sim pelo repasse às gerações futuras. Na “vida líquida”, expressão por ele criada, dois aspectos atualmente contribuem para uma nova visão do trabalho: a estética do consumo e os valores ali projetados. A primeira ocorre por meio da busca permanentemente do prazer imediato e a última pela visibilidade que o trabalho é capaz de oferecer. Sobre isso ele diz:

“Como outras atividades da vida, o trabalho agora surge, primeiro e antes de tudo, a partir do escrutínio estético. Seu valor é julgado por sua capacidade de gerar uma experiência prazerosa. Um trabalho desprovido de tal capacidade – que não ofereça uma “satisfação intrínseca” – é também um trabalho desprovido de valor. Outro critério (também seu impacto moral supostamente enobrecedor) não pode competir e ser poderoso o bastante para salvar o trabalho da condenação como inútil ou sem sentido para o colecionador de sensações esteticamente guiado” (p.172).

Conclui-se que o trabalho vem passando por transformações no decorrer do tempo, mas, por questões de sobrevivência e de realização pessoal, ainda assume um papel preponderante na vida das pessoas.

 

Essas duas posições aqui apresentadas problematizam sobremaneira a questão do trabalho, mas, na sua essência, revelam e esclarecem porque as pessoas muitas vezes apresentam problemas de adaptação que geram infelicidade e frustração. Quase sempre são questões pessoais que precisam ser revistas, outras são expectativas mal direcionadas e outras ainda são aspectos defasados da organização que não implementa políticas administrativas e de gestão adequadas, ignorando ou se recusando a reconhecer os sinais da evolução.

A CONSULTORIA PESSOAL

 

A conectividade humana, através de uma rede de informações, tem alterado a maneira das pessoas enxergarem o mundo, causando mudanças de valores e consideráveis reflexos nas suas vidas.

 

No passado as trilhas de desenvolvimento profissional eram bem conhecidas e quase sempre naturalmente repetidas quanto à formação acadêmica, escolha de profissões, atuação no mercado e desenvolvimento de carreira.

 

Hoje, as trilhas se multiplicaram, abrindo muitas saídas, tanto em termos contratuais como em formação, exigindo que as pessoas se auto monitorem constantemente para evitar flutuações, desperdício de tempo e, em casos extremos, não ser tragado por uma administração perversa que exija jornadas de trabalho absurdas e abusos, comprometendo a saúde física e/ou mental do profissional.

 

Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgados em 2013 apontam que no Brasil, dos 166,4 mil auxílios-doença concedidos, cerca de 15,2 mil são por problemas mentais ou comportamentais. A depressão está no topo, com mais de 5,5 mil casos, entre episódios depressivos ou transtornos decorrentes.

 

É aconselhável que neste ambiente de instabilidade e constantes mudanças as pessoas busquem orientação de um profissional capacitado em avaliar para quais direções a bússola momentaneamente parece apontar. Para ajudar nesse processo de dimensionamento da área do trabalho, levantando outras questões existenciais que intrinsecamente ali se mesclam, existe o consultor pessoal do trabalho.

 

É um trabalho focado que se propõe a uma investigação e questionamento com o objetivo de buscar conhecimentos, esclarecer ações e auferir medidas de força para atrair, lidar e acompanhar resultados diante de novos desafios.

Também é necessário rever crenças e valores. Se eles estão subjacentes e não sustentam projetos atuais, podem estar se apoderando de energia suplementar, que pela continuidade pode causar estresse. Avaliar motivações, dar sustentação emocional para experienciar saídas da zona de conforto, também são propostas que fazem parte do conteúdo e da metodologia deste processo.

 

Minha experiência há décadas como psicólogo organizacional, inserido nas áreas de recursos humanos, atuando em programas de capacitação, desenvolvimento e orientação profissional de diferentes cargos, aliado a minha sensibilidade, capacita-me a diagnosticar situações problemas e de forma integrada, ajudar na retomada do fluxo da criatividade e da motivação, tão necessários para o trabalho.

 

A minha abordagem psicológica valoriza na mesma proporção os planos racional e emocional que interagem constantemente no campo das relações do trabalho.

 

Todo papel profissional é constituído por uma bagagem que se atualiza a todo instante pelas aprendizagens, vivências e experiências às quais as pessoas no trabalho se expõem. Para que haja um bom desempenho profissional é necessário um ajuste entre as demandas externas, exigidas pelo cargo, com a forma de ser e de se comportar de cada pessoa, que é a sua personalidade. Esse ajuste só é possível pela busca do autoconhecimento.

Existem várias maneiras de se buscar o autoconhecimento. A Arte é uma delas. Por ser menos analítica e mais sintética, visa uma acomodação interna que se concretiza através de movimentos por etapas, enfrentamentos de resistências, superação de limitações, regulação de tempo e ritmo, aspectos importantes a serem trabalhados num processo de mudança  pessoal relacionado ao desenvolvimento do trabalho.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

BENDASSOLI, P. F. Os ethos do trabalho. Sobre a insegurança ontológica na experiência atual com o trabalho. 2006. 257 p. Tese (Doutorado em Psicologia). Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2006. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-11102006- 074919/pt-br.php. Acesso em: 21 mar. 2016.

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