Sidney | Psicólogo e Arteterapeuta
ARTETERAPIA NA EMPRESA UMA EXPERIÊNCIA CRIATIVA E CRIADORA
Antonio Sidney Francisco e
Monica Salgado
“Às vezes, pelas tardes, uma face nos observa do fundo de um espelho; a Arte deve ser como este espelho que nos revela nossa própria face. ” Jorge Luís Borges
A linguagem artística
Como a linguagem verbal é um dos meios de comunicação mais antigos e conhecidos, as pessoas parecem ter se esquecido de que existem outros meios tão eficazes quanto ela para expressar seus desejos, alegrias, vontades, tristezas, revoltas, resoluções e muito mais.
Entretanto, é também possível lembrar que a Arte é considerada, desde os tempos mais remotos, a mais elevada forma de expressão humana e sempre revelou as emoções e os sentimentos de seus criadores. A partir daí, podemos enxergá-la como uma via de duas mãos: de um lado, como uma forma de comunicar e expressar nossos sentimentos e emoções, e de outro, como facilitadora no contato de cada um de nós com nosso próprio mundo interno.
Como a Arte é uma comunicação que se origina predominantemente no lado direito do cérebro e provém de uma fonte pré-verbal, é muito mais criativa, imaginativa e livre de defesas que a comunicação verbal. É a partir daí que podemos começar a compreender o importante papel da arte como terapia. Digo começar, porque só é possível apreender todos seus benefícios e as transformações que podemos realizar, vivenciando e experienciando.
Antes de mais nada, é preciso lembrar que, a partir do momento em que atribuímos um papel terapêutico à Arte, deixamos de privilegiar os aspectos estéticos para priorizar o processo criativo. Não é preciso ser um artista reconhecido, um grande pintor ou escultor. Esse é o grande lance! Enquanto estivermos ligados à expectativa do que vai sair ou do belo que precisamos produzir, estaremos não só nos afastando do contato com a intimidade, como nos impedindo de percorrer o caminho transformador que a Arte e qualquer processo criativo nos conduz.
De certa forma, o processo artístico nos obriga a não pensar, a se entregar e a viver o aqui e o agora. Assim é que a Arte, como qualquer processo de criação, ainda que compreenda a elaboração racional, acontece no âmbito da imaginação, da fantasia, do lúdico. E, como tudo que é intuitivo, esses processos se tornam conscientes à medida que são expressos, em que lhes conferimos uma forma. A partir daí, podemos indagar a respeito dos possíveis significados existentes naquele ato criador e, então, perceber as transformações... ocorridas não só naquele que participa do ato criador como também no ambiente que o rodeia.
O Trabalho na Empresa
Durante aproximadamente 3 anos, realizamos as Oficinas de Arte na Associação de Empregados da Cetesb – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, através da Diretoria Cultural. A princípio, sem um caminho predeterminado, procuramos definir aquela que seria nossa forma de – através da Arte, seja pintando, desenhando ou esculpindo – entrar em contato com o grupo. Tentando descobrir seus desejos, adivinhando o que poderiam ser suas necessidades... e assim fomos caminhando.
Inicialmente chamadas Oficinas de Criatividade, tinham o objetivo de criar um espaço, onde, além de serem apresentadas as várias técnicas artísticas, as pessoas pudessem começar a vivenciar o terapêutico, presente neste tipo de trabalho.

Só quando estamos envolvidos numa atividade artística, manuseando diferentes materiais, é possível perceber que, mesmo que tentemos controlar, a imaginação se solta e sutilmente cria obras e significados.
De fato, a experiência se revelou terapêutica e prazerosa, ajudando as pessoas a expressarem seu mundo interior. O prazer foi experimentado pela visão das cores e das formas, pela realização de uma obra original e criativa, e pela manipulação das tintas, argilas, tecidos, etc.

Trabalho coletivo de guache sobre papel craft
Em qualquer trabalho terapêutico, temos que contar com uma certa resistência, entretanto, não temos dúvida que é dentro da empresa que ela aparece com mais intensidade. As dificuldades em entrar no processo têm a ver com o externalizar sentimentos e comunicar descobertas, frente às pessoas que compartilham o mesmo dia-a-dia de trabalho. Daí a necessidade de estarmos sempre elaborando e transformando tais relações e impedimentos, mantendo um cuidado para que as pessoas não se sintam invadidas no seu espaço pessoal.
As transformações ocorrem no decorrer do trabalho, desde que haja envolvimento do participante e desde que as sessões se interliguem entre si, promovendo um desenvolvimento gradativo. Só quando estamos pintando, modelando ou expressando, através de qualquer material, é possível perceber que, mesmo que tentemos controlar, a imaginação se solta e, mais rápido do que possamos imaginar, estaremos fazendo algumas associações. Somos surpreendidos por emoções, aspirações e uma enorme gama de prioridades interiores. E aí fica mais fácil compreender como essas prioridades podem influir na nossa mente, no nosso fazer e no que queremos criar. É nessa renovação de vínculos, no como queremos criar – viver – que se encontra o terapêutico da Arte.
Acreditamos que, neste tipo de trabalho, a Arte assume definitivamente seu papel real: de manifestação construtiva e transformadora, ao alcance de todos – das mãos e do coração – portanto, capaz de exprimir as emoções mais profundas. E, através de todo esse processo, criar os canais para sua compreensão.
Assim, a experiência nos deu a certeza da possibilidade de se fazer Arte dentro da empresa. Um trabalho que inclui um aquecimento, alguns exercícios corporais, um relaxamento... recursos necessários antes do próprio fazer artístico. A partir daí... argila, pincéis, tintas, desenhos, música fazem parte do processo, para que depois, juntos, aproximemo-nos do que foi criado e vivenciado.
Só desenhando, pintando, modelando e fazendo uso das cores e das formas é possível reconhecer e viver o poder, a magia e o terapêutico da Arte!